Eu troquei sim.
Todas as mentiras por uma verdade.
Todas as inseguranças por uma certeza.
Todas as agressões por um porto seguro.
Todos os porres por um café da manhã digno.
Toda a falta de perspectiva por um raio de luz no fim do túnel do futuro.
Eu não traí ninguém. Eu fui fiel a mim.
Depois de meses – que mais pareceram anos – segurando barras que não eram
minhas, trancos que não me diziam respeito, sofrimentos que em nada me
pertenciam e ainda sim ser digna e leal a você; depois de sofrer inúmeras
humilhações e interrogatórios da sua família, me expor para te defender sempre,
abdicar da minha família sem um gesto de respeito ou consideração que fosse, eu
caí em mim e percebi que se eu não cuidasse da minha vida, então duas estariam
perdidas. Porque eu jamais conseguiria te salvar e acabaria afundando a mim
mesma.
Tivemos momentos de felicidade. Será que foram reais em meio a todas as
mentiras?
Tivemos momentos de verdade. Esses foram os piores porque não eram
verdades espontâneas, eram verdades descobertas ou realidades lancinantes.
Nunca tivemos momentos de honestidade, muito embora em mim isso tenha
sido um princípio a reger todo o relacionamento. Meu passado me bateu demais
pela falta de transparência.
Assim como ninguém muda ninguém, eu não conseguiria mudar você nem em um
milhão de anos. E como não tenho todo esse tempo, o melhor que fiz foi ir
embora. Por mim e por você.
Eu sofri. Tenho certeza que você também.
Eu fui por outro caminho. Não sei qual você tomou. O que sei é a estrada era apertada demais
para continuarmos os dois seguindo nela e em direções opostas. Porque eu não te
seguia e nem você a mim. Batemos de frente todo o tempo tentando empurrar um ao
outro e tudo o que conseguimos foi nos machucar.
Felizmente o amor sorriu pra mim mais cedo. Talvez porque eu tenha
merecido, talvez por sorte, talvez porque fosse realmente a hora. E o amor vai
sorrir pra você também.
O amargor do fim passa por todos os lábios, mas não precisa permanecer
neles. Cuspa esse fel e liberte-se de nós.
Deixei pra você a estrada livre para que você seja melhor, viva melhor e
encontre alguém que te faça realmente feliz. Que não te cobre tanto, que seja
mais leve, menos séria, que não queira e nem tenha um compromisso, que traga
somente bons momentos, que se conforme sem pedir em troca, que se adapte a
você.
Eu sou inquieta, ansiosa e inconformada demais para ver a vida passar na
minha frente e não fazer nada, para ver as coisas erradas e não corrigir, para
ser figurante na minha própria história esperando que, um dia, pela boa vontade
de alguém, eu seja finalmente vista e promovida a protagonista. Não consigo.
Não tenho paciência.
E assim como você não foi obrigado a conviver com as minhas imperfeições,
também não sou obrigada a conviver com as suas. Acho que somos insuportáveis
demais um para o outro. Pena que fomos tão fundo, nos envolvemos tanto para
descobrir isso. Às vezes, se tivéssemos sido mais fúteis no começo,
descobriríamos tudo isso antes e envolveríamos menos pessoas na decepção que
fomos nós dois.
Isso foi um desabafo sensato carregado de tristeza. Não é nem mágoa. É
tristeza. Pelo que você se tornou depois do fim. Por tudo o que disse, por tudo
o que fez. Eu não proferi nenhuma palavra a seu respeito, embora tivesse tudo
para falar. O que vi, o que vivi, o que sei. Mas não. Calei. Por respeito. Por
dignidade. Por maturidade. E te defendi quando qualquer pessoa ameaçava tocar
no seu nome – ainda que essa pessoa tivesse razão sobre o que quer que fosse
falar. Porque não é justo julgar alguém que não está ali para se defender. E eu
poderia, afinal, você anda falando cobras e lagartos sobre mim. Mas eu prezo a
minha honra, minha elegância, minha classe. As coisas não precisam terminar
assim.
Te proponho então uma trégua. Nem ode aos bons momentos, nem a vergonha
sobre os maus. Simplesmente ignoremos o que foi e foquemo-nos no que pode ser.
Você, sua vida, daqui pra frente. Eu, minha vida, daqui pra frente. Esquece que
um dia eu passei por você. Recomece. Porque uma coisa eu te garanto: outra
história igual, nunca mais vai haver. Graças a Deus.