No começo foi
uma angústia. Um sofrimento. Uma incerteza.
Uma certeza.
Uma escolha. Uma dor. Uma saudade de 20 anos em menos de 20 horas.
Depois veio a
sensação de alívio. Um pouco de medo pela novidade. O começar de novo. Saber
seu nome, de onde você veio, o que já fez na vida, se já amou e foi amado, se
já sofreu e fez sofrer, que histórias já contou, que histórias já contaram
sobre você e, o mais importante, que histórias ainda quer contar.
Lembrei da
borboleta. (Dei um Google numa metáfora linda sobre a metamorfose das
borboletas que li outro dia, mas não achei a porcaria do artigo. Enfim.)
Que a
bichinha nasce um ovo, vira uma lagarta horrorosa e comilona, depois se
encasula e sai da casca como uma linda borboleta a gente já sabe.
O que pouca
gente sabe é que a ruptura desse casulo é lenta e dolorosa, e que quando ela
finalmente consegue se livrar da casca, ela está com o corpo mole e as asas
amassadas.
Acho que eu
estava assim. Com o corpo mole e as asas amassadas. Até você chegar. Aliás,
minto. Até você chegar eu estava com uma visão e um sentimento míopes da vida,
enclausurada num casulo pequeno, apertado, que me machucava. Você quebrou meu
casulo. Me ajudou a sair dele. Me pegou molenga e amassada. E assim eu estava
até um certo oito de setembro. O dia do primeiro de muitos SIM que eu diria a
você.
O tempo foi
passando. Às vezes rápido, às vezes devagar. Rápido quando estávamos juntos,
devagar quando o momento era de espera para te encontrar de novo. Mas em
qualquer das duas situações o tempo, esse separa e que junta, nunca deixou de
ser intenso.
Acho que
demorou tanto pra gente se encontrar que não poderia ser de outra forma. Depois
de tantos desencantos, a urgência de alguma coisa verdadeiramente linda nessa
vida rege a profundidade de cada segundo que passamos seguindo juntos, em
frente. E se há verdade, sinceridade, lealdade, compromisso e vontade
espontânea de estarmos dividindo a mesma estrada, o nascimento de um sentimento
etéreo é conseqüência das nossas ações.
É bíblico:
“Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” Filipenses 4:8
Bem, e logo comigo, óbvio, não haveria de ser diferente.
Primeiro era só felicidade, mas uma felicidade restrita. Eu me policiava
o tempo todo para viver um dia de cada vez. Não alimentar sonhos, não nutrir
expectativas, não acalentar esperanças, não projetar. Um dia de cada vez. E eu
não sou assim. Eu tenho um pé na Terra e um pé na Lua.
Então me permiti sonhar com você. Mas apavorei quando pensei que você
poderia, por algum motivo, não sonhar comigo também.
Aos pouquinhos você foi construindo alicerces em mim. Uma casa na pedra:
“Portanto, quem ouve essas minhas palavras e as põe em prática, é como o homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, mas ela não caiu, porque fora construída sobre a rocha. Por outro lado, quem ouve essas minhas palavras e não as põe em prática, é como o homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, e ela caiu, e a sua ruína foi completa!” - Mateus, 7:24.
Com carinho e (muita!) paciência, foi espantando meus medos, me tomando
nos braços, me deixando segura.
E essa segurança favoreceu o nascimento de um sentimento bom que não
anula a paixão, mas acrescenta a tranqüilidade na vida da gente. Na minha
concepção ele une duas pontas essenciais em um relacionamento. Quando ele
permeia duas vidas, ele deixa a gente com cara de Jota Quest:
“Posso brincar de descobrir desenho em nuvensPosso contar meus pesadelosE até minhas coisas fúteisPosso tirar a sua roupaPosso fazer o que eu quiserPosso perder o juízoMas com você eu to tranqüiloTranqüilo...(...)Se isso não é amor, o que mais pode ser?”
Eu demorei pra sacar que estava amando de novo. Eu achei que ia levar muito
mais tempo pra isso acontecer. Eu fui muito machucada pela vida afora. E quando
a gente leva um tombo e se levanta, fica mais criterioso, mais exigente, mais
chato, menos tolerante pra entregar o coração. Mas você fez ser diferente.
Você não desistiu de mim, você me enfrentou e disse que ia lutar por
nós, você me mandou pular pra você. Só que, sem saber, eu já estava aí. Do seu
lado. VOCÊ me fez ter coragem.
E, de repente, eu acordei mais que feliz. Mais que apaixonada. Mais do
que sorrindo pra moça da padaria. Mais que não me importando com a falta de
vaga na rua. Era como se alguma coisa fosse explodir dentro de mim a qualquer
momento. Pensar em você acelerava meu batimento e te ver me dava vontade de
sair correndo, gritando e ao mesmo tempo de não sair correndo de nada, nunca
mais.
Vontade infinita de ficar, de pertencer, um fim da linha bom. Fim da
espera, fim da procura, fim da ansiedade, fim de uma busca incessante pela
pessoa que, finalmente, me faria ficar. Não porque me segura de alguma forma.
Não porque me prende ou me põe em qualquer tipo de gaiola. Sabendo que eu posso
ir, ficar porque eu quero.
Aí vem os questionamentos mundanos: mas é muito pouco tempo pra sentir
isso tudo, não?
Defina tempo. Quanto tempo é muito tempo?
“Um dia sem te ver é muito tempo. Sessenta anos juntos não é muito tempo não.”
Lembra disso?
Naquela noite eu tive certeza. Olhando pra você tão pertinho e desejando
que você ficasse mais perto ainda, mais junto ainda, eu tive certeza. E dane-se
o tempo!
Nosso tempo não é o tempo dos outros. E o tempo dos outros não é o nosso
tempo.
E eu queria te falar ali. Mas não tive coragem e ao mesmo tempo acho que
queria ouvir primeiro. E, honestamente, tive medo de que não fosse recíproco.
Drummond veio bater um papo nas minhas lembranças:
“MemóriaAmar o perdidodeixa confundidoeste coração.Nada pode o olvidocontra o sem sentidoapelo do Não.As coisas tangíveistornam-se insensíveisà palma da mãoMas as coisas findasmuito mais que lindas,essas ficarão.”
De repente você virou um enigma! Será que a gente estava na mesma página?
Será que eu estava me precipitando? Sendo afobada? Correndo com as coisas? Você
nunca tinha mencionado nada a respeito do que andava sentindo.
Resolvi deixar o que fosse explodir só em mim. Eu dava conta. Como dei.
Fim de semana, fazenda, espumante e palavras fluidas. Impossível
segurar.
Não há vergonha em amar alguém. Não há vergonha em não ser amada de
volta. Você me resolveu.
Me declarei uma vez. Me declaro todos os dias. Me declaro quantas vezes
eu quiser só pra sentir meu riso fácil de novo.
Que bom que você me ama também! Isso é importante! Ufa!
Mas, egoísticamente falando, o mais importante do meu amor por você é o
tanto que ele me faz feliz! O tanto que eu estou plena hoje como não era há,
pelo menos, três anos. O tanto que estou tranqüila, que mesmo em meio a mil
guerras, eu sinto paz. O tanto que estou leve, que me olho dançando no espelho,
como foi hoje, e sinto minha inocência de volta. Desarmada.
Então eis aqui o outro presente que você me pediu de aniversário: um
texto feliz!
Feliz por mim, por você estar aqui, por nós existirmos. Por tudo o que
já foi – ainda que o que foi possa parecer pouco, por tudo o que é e por tudo
que pode ser.
“Mãos dadasNão serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheiros.Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considero a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”
**Colaboraram com esse texto Jota Quest, Deus e Carlos Drummond de Andrade!
Muito bom ver você feliz!
ResponderExcluirQuando você coloca Deus como piloto da sua estrada o caminho é perfeito e tranquilo. Se verdadeiramente sua vida está nas mãos de Deus, você pode não está entendendo nada, mas lembre-se, Ele sabe o que faz.. e o que está fazendo!
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