A lavadeira

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Dois anos.

Bianca, mamãe, eu e Vozinho.
Meu aniversário de 24 anos


Dois anos.
Dois anos que não vejo mais você.
Dois anos que não ouço a sua voz.
Dois anos sem você à mesa.
Dois anos sem os seus 70 anos de vida.
Hoje eu acordei chorando. Eu queria conter as lágrimas, mas te fiz uma promessa na última vez que nos falamos por aquele texto que escrevi que não ia mais segurar quando a saudade fosse forte demais.
E hoje é. Forte demais. Hoje cedo eu senti falta do seu abraço, senti falta do seu silêncio que consola mais do que qualquer palavra no mundo, do seu colo, das suas broncas, de deitar do seu lado e ali sentir que eu sumi, que você me encobriu no seu espaço, que no  seu mundo eu estava segura. Afinal você é avô. Avô é pai duas vezes e se você considerar nós 5, você vale por dez pais. Mais o Ian, treze pais. Bisavô é pai três vezes.
Hoje volto no tempo e me permito sair da posição de porto seguro do mundo pra voltar àquela época em que eu era só um barquinho de papel sendo sempre rebocado e ancorado por você.
E lembro de cada parque, cada domingo, cada final de semana, cada vez que você me esperou chegar acordado, do seu rosto quando cada um dos meus primos e a minha irmã nasceram, cada mexido nas caladas da noite, cada regrinha, cada Natal. De todas as vezes que você me defendeu, brigou por mim, brigou comigo. Cada viagem. Ilhéus, Búzios, Nova Almeida, Rio, Noronha. Cada festa da empresa onde eu entrava na sua sala e fingia ser você.
Eu queria ser você.
Queria ter sua força, sua coragem, sua retidão, seus valores, seu sucesso, sua astúcia, sua maldade e sua bondade. E hoje eu me sinto um pouco inacabada.
Quando eu comecei a  ser menos ignorante diante dos seus ensinamentos atemporais, você foi embora. E eu fiquei cheia de linhas soltas pra terminar de dar os nós eu mesma. E de tão atrapalhada que eu sou, vivo tropeçando em várias linhas e tomando tombos feios.
Você era pequeno, mas tinha braços que abraçavam o mundo. Eu tento fazer o mesmo e não consigo. Esse segredo você não me ensinou. Talvez por falta de tempo ou por confiar em mim para descobrir sozinha.
Enquanto você esteve aqui, de um jeito ou de outro as coisas tinham ordem. Sem você todos os dias são de luta pra que as coisas entrem nos eixos. E dói tanto ver isso que eu simplesmente negligenciei, me afastei, não sei responder a quem pergunta “como estão as coisas” ou “o que está acontecendo”.
Você carregou o mundo nas costas e só depois que você partiu, leve, descansado, é que vimos o tamanho do seu fardo.
E você foi tão digno! Tão corajoso, tão forte. Sofreu com tanta resignação e sem reclamar.
Manda essa força pra mim, baby. Pra superar a saudade. Pra vencer a vida.
Te amo muito.
Eu não posso entender
Essa vida tão injusta
Não vou fingir que já parou de doer
Mas um dia isso vai acabar

Eu não consigo me convencer
Que essa vida não foi injusta
Tanta falta me faz você
Queria ver você em casa


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